Ficar com o corpo bronzeado é um desejo comum diante da proximidade do Verão: a nova estação começa no Brasil no dia 21 de dezembro e, com ela, a temporada de praias, piscinas e fotos exibindo corpos dourados nas redes sociais.
Por trás do “glow perfeito”, no entanto, pode haver um comportamento compulsivo que aumenta o risco de câncer de pele e transforma o verão na estação mais perigosa do ano: a taronexia. Trata-se de um diagnóstico complicado: um vício em se bronzear a qualquer custo.
Especialista em beleza natural e estética consciente, a dermatologista Denise Ozores (CRM SP 101677) explica que a tanorexia é uma obsessão em manter a pele sempre bronzeada, mesmo fora da época de calor. "É uma distorção de imagem corporal. A pessoa não percebe o exagero. Ela se vê pálida quando, na realidade, já está mais do que queimada”, afirma médica.
Nesses casos, a pessoa nunca se enxerga suficientemente morena e sente incômodo ou até tristeza ao se ver “clara demais” no espelho. Para tentar corrigir essa sensação, apela, de modo equivocado, para horas seguidas de exposição ao sol sem a devida proteção, bronzeamentos improvisados em lajes ou procedimentos de origem duvidosa.
Muitas vezes, nas redes sociais, a lógica parece simples: quem está mais dourado parece mais saudável, mais desejado e mais “vivo”. “Muita gente tenta reproduzir na vida real o mesmo brilho que vê na tela, sem entender que aquele dourado perfeito ou é edição ou é o resultado de anos de dano acumulado de sol", alerta a médica.
Esse padrão visual cria uma pressão silenciosa, principalmente entre mulheres e jovens, para se adequar ao “glow perfeito”. “O problema é quando o filtro do Instagram vira referência de realidade”, diz a dermatologista.
A especialista ainda reforça a campanha de Dezembro Laranja, um alerta de prevenção ao tipo de câncer mais frequente no Brasil: o câncer de pele. A principal causa é justamente a exposição excessiva e desprotegida à radiação ultravioleta.
Segundo a médica, o verão concentra os casos mais críticos, já que a radiação é mais intensa e as pessoas passam mais tempo ao ar livre, muitas vezes sem reaplicar protetor ou usando produtos inadequados. “Infelizmente, eu vejo o câncer de pele se tornar o câncer da vaidade”, opina Denise Ozores: “Tem paciente que sabe que está exagerando, mas prefere arriscar do que aparecer ‘branco’ na foto de fim de ano.”
Para Denise, o desafio é ressignificar a ideia de “pele bonita”: beleza não deve estar ligada a um tom específico, afinal cada beleza é única e individualizada. Isso não significa abrir mão do verão, mas redefinir a relação com o sol.
“É possível curtir praia, piscina, Réveillon e Carnaval sem transformar a pele em campo de batalha”, afirma. Protetor solar diário, chapéu, sombra, horários seguros e, principalmente, limites reais na busca pelo bronze são fundamentais. “A grande virada de chave é entender que o verdadeiro ‘glow’ é o da pele saudável, não o da pele queimada”, conclui a dermatologista.